FIDCs: a classe de ativos da renda fixa cujo retorno histórico supera os produtos IPCA +6%.
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Os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) são produtos de investimento da classe de renda fixa privada, geridos por médias e grandes instituições financeiras e tem como objetivo antecipar o pagamento ou fornecer crédito para empresas e fornecedores em geral. Um único FIDC pode estar exposto a 1 ou a milhares de devedores.
Quanto maior for a concentração do fundo FIDC em poucos devedores, maior é o risco para o investidor que decidiu comprar suas cotas. Quanto maior for a pulverização do patrimônio do fundo em diversos devedores, com uma eficiente diversificação na exposição setorial, melhor será a qualidade do risco. Temos excelentes produtos no mercado.
Com o objetivo de pulverizar ainda mais o risco e buscar por mais segurança, existem os FIC FIDCs. Os FIC FIDCs são produtos que investem em múltiplos FIDCs diferentes, com estratégias distintas ou semelhantes, e em cotas seniores e (ou) subordinadas simultaneamente.
Os FIC FIDCs são uma forma do investidor obter os maiores retornos da renda fixa e com um controle dos riscos de forma mais assertiva quando comparada aos FIDCs diretos, até mesmo quando comparados aos títulos privados como CRI, CRA, CDBs, LCI, LCAs, Debêntures, dentre outros.
Como os FIDCs funcionam?
A antecipação dos recebíveis e o risco sacado
Suponha que, por meio de uma plataforma digital, os fornecedores da Raia Drogasil (cedente) possam solicitar ao FIDC que antecipe os pagamentos devido pela Raia (risco sacado). Essa antecipação será feita em troca de um desconto, para que ambos sejam beneficiados. Os fornecedores irão aceitar receber esses pagamentos devidos na data antecipada por menos, cujo lucro será auferido pelo FIDC quando a varejista farmacêutica honrar com seu compromisso. O FIDC passa a assumir o risco da devedora Raia, em troca de um juros.
Em paralelo, o FIDC pode propor à Raia um prazo adicional, acima do acordado com o fornecedor e, caso aceito, o FIDC obtém uma nova fonte de juros. Caso a Raia Drogasil não honre com seu compromisso, o gestor responsável pelo fundo terá que lidar com prejuízos advindos da inadimplência. Uma operação comum dos FIDCs é a antecipação das parcelas devidas pelos clientes (sacado) que consumiram na Raia. Os FIDCs antecipam o recurso para a varejista (cedente) com um desconto, e recebem de forma integral o valor devido por parte de seus clientes.
Os FIDCs devem compor a estratégia de reserva de emergência ou renda fixa ativa?
Como grande parte dos fundos de investimento em direitos creditórios possuem um prazo de resgate entre 30, 45, 90 e até 180 dias, eles não devem compor a estratégia de reserva de emergência, já que esta exige que os produtos de investimento sejam de liquidez imediata para honrar compromissos financeiros já programados do investidor.
Os FIDCs são produtos que devem compor a estratégia de renda fixa ativa, com o objetivo de obter os maiores retornos da classe de renda fixa, e com menor oscilação, quando bem geridos. Adicionalmente, os FIDCs não possuem cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
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Queda dos juros: como afetam os FIDCs?
O impacto da desaceleração dos juros nos FIDCs irá depender da natureza da cota do fundo (sênior ou subordinada), do controle da inadimplência, da pulverização dos devedores, assim como da velocidade com a qual o gestor consegue girar o seu caixa sem a necessidade de gastar recursos com a recompra e renegociação de suas dívidas inadimplentes.
FIDCs: Investidores sêniors VS. Investidores subordinados (ou mezanino)
Quando se trata de cota sênior indexada ao CDI acrescidas de um spread, esta tende a ter sua rentabilidade final reduzida conforme o CDI cai.
A cota sênior representa o passivo (ou obrigação) do fundo (ou do investidor que comprou cotas subordinadas), dado que se trata de uma cota pré estabelecida em, por exemplo, CDI+3%. Independente do resultado das operações do fundo, o investidor que aplicou seus recursos na cota sênior de um FIDC irá receber a rentabilidade atrelada ao CDI+3%.
Por outro lado, o investidor que aplicou na cota subordinada ficará com toda a rentabilidade que exceda o retorno acumulado diariamente e prometido ao investidor da cota sênior (CDI+3%, como mencionado anteriormente) ou seja, a cota subordinada apenas terá retorno após o pagamento do seu passivo.
Como o indexador CDI representa o custo de capital do FIDC, já que ele precisa pagar ao investidor da cota sênior a uma taxa anual equivalente à CDI+3%, uma potencial queda nos juros tende a beneficiar o investidor que possui parte de seus recursos expostos à cota subordinada.
Crédito de curto prazo e taxas vantajosas aos investidores de FIDCs
Adicionalmente, grande parte dos FIDCs têm como propósito financiar o capital de giro das companhias, sejam elas sensíveis à crises ou resilientes. O financiamento de capital de giro envolve o fornecimento de crédito às companhias para custear suas necessidades de curto prazo e, consequentemente, essas linhas de crédito possuem prazos reduzidos, sejam eles semanas ou meses.
A taxa praticada no financiamento de capital de giro, quando anualizada, pode chegar entre 30% e 50% a depender do risco da operação (ou do devedor) e do volume de garantias envolvidas.
Dessa forma, a receita nessas operações não é bem correlacionada ao CDI, mas irá depender de como o FIDC é capaz de girar o seu caixa sem realizar a recompra das próprias dívidas, assim como controlar a sua inadimplência. Para girar o caixa, o FIDC precisa receber o pagamento da dívida cedida no prazo acordado e emprestar novamente para manter a operação de seus devedores.
Sendo assim, a queda na taxa de juros pode, em parte, reduzir a taxa praticada nas operações de crédito do FIDC, mas aumentam o giro da operação (quantidade de duplicatas), reduzem o seu passivo (o custo da cota sênior CDI+3%ao ano) e tendem a melhorar a inadimplência desses ativos.
O índice de subordinação e sua relevância ao investidor dos FIDCs
Para o investidor da cota sênior, é de extrema importância que acompanhe o Índice de subordinação do FIDC. Trata-se de um indicador que mensura o seu risco de perda. Ótimas gestoras de FIDCs devem ser capazes de manter esse indicador acima de 20% no mínimo.
O índice de subordinação é equivalente à divisão entre o patrimônio dos investidores alocados na cota subordinada e o patrimônio total do FIDC. Ele representa o potencial de perdas que o fundo pode absorver até que o prejuízo alcance o investidor da cota sênior.
Conforme a inadimplência vai aumentando, ou o fundo não consiga mais recomprar as próprias dívidas inadimplentes, o patrimônio alocado nas cotas subordinadas são os primeiros a sentir as perdas.
Suponha que o índice de subordinação em um FIDC seja de 25%. Caso as perdas no fundo ultrapassem o valor de 25% do seu patrimônio total, o investidor da cota sênior começará a ter volatilidade em seus retornos.
Resumo dos principais indicadores de análises e performance dos FIDCs e FIC FIDCs
Índice de subordinação: relação entre o patrimônio da cota subordinada e o patrimônio total do fundo.
Índice de inadimplência e Provisão para devedores duvidosos: índice que calcula o volume de dívidas inadimplentes em relação ao patrimônio total do fundo, ou dividido pelo volume total do fundo alocado em ativos de direitos creditórios (títulos de dívida alvo de investimento do FIDC).
Índice de recompras: volume de dívidas que está sendo recomprada pelo fundo ou pelo cedente, dividido pelo volume do patrimônio alocado em títulos de dívida (= títulos de direitos creditórios).
Pulverização ou concentração dos maiores devedores: volume dos 1/2/3/4/5…10 maiores devedores dividido pelo volume total de ativos de crédito (títulos de direitos creditórios) alocados pelo fundo.
Comportamento histórico da relação entre volume em caixa dividido pelo patrimônio do fundo, desconsiderando o volume captado na última semana. Esse indicador tem como objetivo mensurar a velocidade com a qual o gestor consegue girar a sua operação, e não o deixar parado em caixa.
Lembre-se que todos os dias o fundo precisa rentabilizar o investidor da cota sênior, e, se deixar dinheiro parado, ruim para a subordinada. Se a subordinada zerar, o senhor começa a ter prejuízos. A gestora de FIDCs precisa ter uma equipe comercial eficiente capaz de prospectar novos clientes, e não perder os atuais clientes para a concorrência.
Volume de captação e resgate dos FIDCs e FIC FIDCs: controlar se o fundo está sofrendo resgates por parte dos investidores, e como isso pode alterar o seu índice de subordinação.
O prazo médio de vencimento dos títulos de dívida investidos pelos FIDCs: quanto maior for o prazo de vencimento dos títulos investidos pelos FIDCs, maior a sua necessidade em controlar o seu passivo (resgate e juros devidos aos investidores da cota sênior). Quanto maior for o prazo de vencimento dos seus ativos, o fundo precisará dispor de um maior volume de caixa, assim como um maior índice de subordinação para que seja possível honrar com possíveis resgates (venda de cotas) solicitados pelos investidores que aplicaram seus recursos no FIDC (ou FIC FIDC). A maior necessidade em manter caixa parado, para fazer jus a possíveis resgates, reduz o potencial de rentabilidade da cota subordinada.
Diversificação na exposição setorial: Identificar a exposição setorial de cada devedor, ou seja, a proporção do fundo exposta a cada um dos setores da economia. Identificar a proporção do FIDC exposto a empresas de pequeno, médio, e grande porte.
Identificar devedores estressados: quando o FIDC cede crédito para devedores com problemas financeiros, problemas na justiça, com pendências tributárias e trabalhistas, chamamos esses “clientes” de “devedores estressados”. É comum que esses devedores possuam dívida com outras instituições financeiras, ou até mesmo já tenham passado seus imóveis para outros nomes de pessoas com parentesco familiar próximo, ou tenham passado o registro desses imóveis e ativos para uma empresa terceira.
Consistência de retornos: Histórico de retorno e volatilidade dos FIDCs e FIC FIDCs em cenários de estresse na economia ou no mercado de crédito privado.
Velocidade com a qual o gestor é capaz de girar o seu caixa: essa é uma métrica cuja correta interpretação exigirá um constante contato com o gestor responsável pelas operações do FIDC. Uma maior permanência do caixa parado é reflexo de uma maior dificuldade, por parte do FIDC, em encontrar bons devedores para ceder crédito, seja por uma intensificação no cenário competitivo, ou devido a uma baixa performance advindas de seu time comercial em prospectar clientes. Não existe um prazo padrão definido de permanência em caixa, mas deve ser investigado em caso de deterioração na rentabilidade oferecida pela cota subordinada e no índice de subordinação.
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