Planos ambiciosos de crescimento? Cuidado com armadilhas

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Oportunidades e riscos em empresas de crescimento acelerado

Um belo plano de expansão e crescimento ambicioso. Tudo embalado por um discurso de encher os olhos.

Muitos ao olharem para empresas com essas características acreditam que terão boas oportunidades de rentabilidade, seja no mercado acionário ou como investidores anjos de startups. Mas, antes da empolgação com as perspectivas de ganhos exuberantes, é preciso por os pés no chão e avaliar os riscos.

Ativos intangíveis e o desafio de avaliar o valor real

Os riscos de perda são elevados, especialmente quando falamos de companhias menores, que não são líderes de mercado e possuem concorrentes com um volume de receita e margens de lucro superiores às suas.

As mais arriscadas contam com um modelo de negócios cujo crescimento exige que enormes quantias de recursos sejam direcionadas em despesas operacionais; ativos intangíveis e depósitos judiciais ao invés da aquisição de ativos fixos, dentre os quais refletem em maiores barreiras de entrada contra novos entrantes como fábricas, veículos, terrenos e equipamentos.

O problema nasce nas incertezas e na dificuldade de mensurar o lucro que eles podem gerar, assim como quando esses ativos intangíveis deixarão de ser valiosos.

Quanto maior for a participação dos ativos intangíveis no balanço, maior será a dificuldade em estimar a geração de valor por parte da companhia.

É de extrema importância que o investidor identifique as empresas que se enquadram em um elevado risco de executar projetos de crescimento para não ser pego de surpresa.

É comum observarmos uma participação elevada de ativos intangíveis e despesas operacionais em empresas de tecnologia e instituições financeiras que não sejam líderes de mercado, assim como em fabricantes farmacêuticas dentre outras.

Essas companhias podem ficar anos realizando pesquisas e estudos para desenvolver novos produtos, o que pode levar a erros graves e atrasar o ponto de equilíbrio do projeto.

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Outro risco importante é o acúmulo excessivo de depósitos judiciais, tanto por questões regulatórias ou não.

Eles refletem a necessidade da companhia de alocar recursos em uma conta para arcar com uma eventual despesa judicial no futuro.

Empresas de hospitais e operadoras de planos de saúde, por exemplo, devem ter elevadas quantias de depósitos judiciais por questões regulatórias, o que aumenta a necessidade dessas empresas em captar dívidas para arcar com todos os seus gastos, fazendo com que suas margens de lucro sejam mais vulneráveis em cenários de estresse na economia.

Dívidas, alavancagem e o impacto das taxas de juros elevadas

Deve-se ressaltar ainda que empresas que usam dívidas de forma recorrente para financiar o seu crescimento possuem um risco adicional em seu modelo de negócios. Em cenários de alta das taxas de juros e inflação, como o atual, as companhias alavancadas perdem grande parte de sua lucratividade, como reflexo do aumento na conta de despesas financeiras com juros da dívida.
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Para entender se o financiamento é saudável para a companhia e aos seus acionistas, temos que entender o prazo de vencimento dessas dívidas, e se a companhia será capaz de gerar recurso suficiente para arcar com pagamento das parcelas acrescidas dos juros da dívida. Quanto maior for o prazo para de vencimento, mais vantajoso será para a companhia, dado que as parcelas serão proporcionalmente menores quando comparadas à sua geração de lucro.
Quando a empresa utiliza dívidas para financiar o seu crescimento, precisamos entender o grau de consistência na lucratividade que será gerada após executado o seu plano de crescimento, assim como as chances de não conseguirem executar esse plano (risco de execução em empresas de crescimento).

Crescimento sustentável em meio à incerteza

Empresas com receita previsível e resilientes, como aquelas presentes nos setores de energia, saneamento, transporte de cargas, locadora de caminhões, hospitais, gestão de resíduos, dentre outros, possuem um menor risco de execução, e maior consistência na receita e no lucro operacional (EBIT). Essa consistência na receita é reflexo de um consumo obrigatório e constante por parte da população (consumo não cíclico ou essencial). Como o crescimento dessas empresas envolve a aquisição de ativos imobilizados fixos que fornecem receitas recorrentes e alto ROIC, eles servem como uma garantia real e favorecem a redução do custo médio de capital e alongamento no prazo da dívida, o que não ocorre com empresas sensíveis e cíclicas. Mesmo assim, suas ações continuam expostas às oscilações dos juros na economia global, já que são intensivas em capital e utilizam dívidas.

O custo da dívida para a empresa (juros) precisa, necessariamente, ser inferior ao retorno oferecido pelo seu modelo de negócios atual e/ou projetado após incorporada as sinergias advindas do crescimento (mensurado pelo indicador ROIC atual e projetado).

A partir do momento em que uma empresa utiliza dívida para financiar a aquisição de ativos que irão fornecer um nível de lucro consistente e superior ao custo dessa alavancagem, dizemos que essa estratégia de financiamento cria valor ao acionista.

Em outras palavras, a companhia potencializa e acelera a geração de fluxo de caixa livre ao acionista. Se o investidor adquirir ações de empresas intensivas em capital e que usam alavancagem para financiar o crescimento em um cenário no qual a taxa de juros no Brasil e no mundo esteja em ciclo de alta poderá perder todo o seu patrimônio.

Quando a alavancagem cria valor: oportunidades em tempos de crise

Ao mesmo tempo, momentos de crise causados pelo aumento no custo de capital criam oportunidades únicas de aplicação. Após o término do ciclo de alta nas taxas de juros, as ações de empresas nessa categoria encontram-se extremamente desvalorizadas, seguindo o ritmo de queda agressivo na sua lucratividade. Nesse momento, o investidor deverá diferenciar duas métricas. A primeira é o Lucro Operacional (EBIT), que considera apenas o lucro auferido com a atividade principal da empresa, e desconsidera as “despesas referentes ao uso de dívidas. A segunda é Margem EBIT.
O que procuramos no final é investir em empresas que apresentem um crescimento agressivo e consistente no lucro operacional (EBIT) e nas margens operacionais, sendo as companhias mais rentáveis e produtivas quando comparadas às suas concorrentes. Portanto, identifique as melhores de cada setor resiliente e as que possuem maiores vantagens competitivas.

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